“A matemática não mente. Mente quem faz mau uso dela.” Albert Einstein.
Meu amor pela matemática começou no 1° dia de aula no 1° ano do ensino médio. Eu começava então uma jornada de amor que já perdura por quase cinco décadas.
O ano foi 1973, era minha primeira aula de matemática no curso Técnico Naval e naquele dia em especial eu me atrasei, o que resultou no fato de que durante todo aquele ano ocupei um lugar em que nos anos anteriores qualquer adolescente normal evitaria: A primeira fileira. E não era para menos. Os rumores de que a professora de matemática era linha dura já corriam como fogo selvagem pelos corredores e sendo que a maioria não queria perder a chance de tentar colar discretamente durante o ano letivo, a maioria optou por lugares mais discretos, sobrando apenas às cadeiras mais próximas a professora. O que passei naquele ano foi o misto de amor e ódio pela matemática.
A professora que arrancava suspiros pelo corpo escultural e lindos olhos verdes penetrantes sabia como ninguém arrancar suspiros de resignação e frustração por ser realmente exigente. Nos dois semestres seguintes somente um aluno alcançou a nota máxima em matemática nas três turmas em que ela lecionava naquela instituição. Da minha primeira fileira eu pude ouvir meu nome por duas vezes seguidas vindos daqueles lábios em primeira mão. A minha paixonite pela professora aliado a extrema exigência dela me fizeram amar a matemática o que me traria benefícios não só no curso, mas ao longo de minha vida profissional.
O amor pela matemática seria posto à prova inúmeras vezes quando já em 1975, no terceiro ano do curso técnico naval eu fui designado a estagiar em uma grande indústria Naval. Eu seria treinado no setor de projetos como desenhista técnico no setor Arquitetura Naval, que era considerado a elite dentre os setores, somente os melhores eram designados a este setor. Os comentários eram que os estagiários morriam de medo desse setor por não envolver propriamente desenho em si, mas muito cálculo. Embora o medo da maioria fosse grande, todos sabiam que era um ramo elitizado, as vagas eram raras e somente os melhores conseguiam entrar. Depois de três meses como estagiário no setor de treinamento fui designado a esse setor depois que o último desistiu. Eu era muito jovem na época (16 anos) para sentir a real provação que viria quando me deparei com o chefe de sessão, um Engenheiro Naval super linha dura que passou a infância convivendo com as bombas e mortes da segunda guerra mundial e trazia consigo uma impecável reputação de ser um chefe muito exigente. Nos meses seguintes eu fui treinado a ser um calculista em regime de guerra e entendi por que meu antecessor havia desistido.
Em uma das várias lições tive que aprender da pior forma possível, tive que consultar vários colegas em busca de uma fórmula simples que não anotei e meu chefe se recusou a repetir. Aprendi a ser mais metódico depois de suar e pedir ajuda aos meus colegas até finalmente recuperar a fórmula. Com este chefe aprendi dentre muitas outras coisas como calcular a raiz quadrada manualmente. Como bom veterano meu professor/chefe não acreditava em calculadoras (neste tempo as então modernas calculadoras faziam somente as 4 operações), me obrigando a fazer os cálculos a mão o que me beneficiou muito nos anos seguintes com a frequente marginalização das calculadoras em aula na época. Em uma ocasião de vida foi me trazida em seguida em um curso pré-vestibular (o curso técnico não tinha ênfase em química, física e biologia). O curso era avançado e mais uma vez eu me via entre a elite que estava se formando, quando um professor começou um problema em que previ que ele precisaria da raiz quadrada. Acostumado a fazer tudo manualmente e me antecipei o resultado provável com duas casas decimais, pois não tinha como ser exato, e quando ele brincando perguntou se alguém tinha a raiz quadrada logo em seguida eu dei a ele o resultado provável. No primeiro momento toda a turma achou que eu tinha alguma calculadora escondida (o que era proibido), e como eu sabia que ele precisaria do cálculo antes de o professor terminar?
Eu fui treinado a dar o meu melhor por professores exigentes, e a não contar com muita ajuda, e isso fez com que meus colegas disputassem um lugar próximo a mim nas aulas de matemática nos meses seguintes. Tirei uma das melhores notas, embora não tenha gabaritado, e que de forma suspeita os colegas que se sentaram próximos a mim também tiraram boas notas naquele ano, o que resultou em um sermão de uma hora do professor sobre cola.
Bendita primeira fileira, professora exigente e bela! Aprendi que muitas vezes estar à frente é o que nos falta, embora de início, pareça assustador.
OK.
FELIX MELO.
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